A GENEALOGIA DO SOLA SCRIPTURA. PROPOSTA DE UMA UTOPIA ECUMÊNICA
Resumo
O Sola Scriptura é o princÃpio formal da Reforma Protestante. Ao instituÃ-lo, Lutero rompeu com a relação histórica entre a leitura da BÃblia e o quadro de referência eclesial. Lutero foi original ao “dar à luz†o Sola Scriptura, mas o princÃpio já vinha sido gestado há pelo menos três séculos. Na verdade, o princÃpio segundo o qual a Escritura se interpreta a si mesma ou ‘scriptura sacra sui ipsius interpres’ já era bem conhecido na Idade Média. A originalidade de Lutero consistiu no fato de que ele desvinculou este princÃpio da Regra de Fé da Igreja Católica tornando-o “o†princÃpio, e este, autônomo. Entre os ascendentes do sola scriptura estão, no campo filosófico, o nominalismo de Guilherme de Ockham, cujo corte epistemológico na metafÃsica ocidental conhecido como “a navalha de Ockham†denunciou o realismo mÃstico medieval como sendo sem sentido, contribuindo para uma maior valorização das Escrituras e do sentido literal de interpretação da mesma. Também a Queda de Constantinopla em 1543 e a migração de muitos de seus intelectuais para a Itália, levaram o ocidente a redescobrirem o idioma grego. Por fim, o Renascimento e o Humanismo - de forma toda especial, Erasmo de Roterdã - também contribuÃram para o amadurecimento do sola scriptura, com o estabelecimento da crÃtica textual. No ano em que se comemoram os 500 anos da Reforma Protestante, faz-se relevante, tanto para protestantes quanto para católicos, trazer à memória as raÃzes teológicas, filosóficas, históricas e acadêmicas do sola scriptura. É importante ter viva a consciência de que Lutero não concebeu este princÃpio ex nihilo. O artigo tem por objetivo compreender o sola scriptura como um princÃpio gestado dentro do próprio catolicismo, o que é útil para que ambos compreendam o sentido do termo Re-forma. A metodologia consistirá em uma revisão de literatura que buscará seus resultados preliminares na proposta da abertura de um espaço para o diálogo ecumênico, a partir do momento em que se compreende que não houve mudança de conteúdo, mas de forma.